sábado, 28 de março de 2009

Antropofagismo





Eu, sem ser antropófago,

já saboreei muita gente por aí.

Minhas preferências são os esbeltos

violônicos corpos femininos: a mulher.

Ah! Se a humanidade fosse toda antropófoga

como eu teria o prazer de ser devorado

em um banquete ou bacanal de lindas garotas

sexys, histéricas, eróticas

e eu, em cima de uma mesa qualquer totalmente nu.

Assado ou cozido.

Recheado de cebolas, tomates e farofas.

Enquanto Odete espetava um dos meus esverdeados olhos

que outrora foram profanos,

Judite arrancava minha língua e mastigava furiosamente.

Depois Maria Helena

pegava uma faquinha de mesa e cortava

delicadamente meu pênis ereto e dizia entre-dentes:

-Como é gostoso esse Mário Gomes.

*

Mario Gomes

(do livro Uma Violenta Orgia Universal)

domingo, 27 de julho de 2008

elegia trancendental





uma estrelinha no céu morreu.

as outras fizeram-lhe enterro.

as nuvens choraram.

a lua fez o velório.

jesus celebrou uma missa.

e eu fiz esta elegia

enquanto o céu ficava de luto.



A FORMIGA E A GOTA D'ÁGUA



PASSEI EM BAIXO DO EDIFÍCIO JALCY.

QUANDO DO AR CONDIONADO,

UMA GOTA D'ÁGUA CAÍ NO MEU BRAÇO NU.

NA PRESSA DE LIMPAR O BRAÇO,

VI QUE UMA FORMIGA SE APROXIMAVA.

DEI UM TEMPO. A FORMIGA BEBEU A ÁGUA.

SAIU. ESPANTEI A FORMIGA E ENXUGUEI O BRAÇO.



Uma violenta orgia universal



Olhei o sol.

Me irreitei

E larguei a mão na cara dele.

No qual ele ficou

Desacordado por 12 horas ininterruptas.

Dei um ponta-pé nos ovos da terra.

Afastei São Jorge

E mantive relações sexuais com a lua.

Pisoteei o cadáver de satanás

Numa esquina encontrei-me com Deus

E saímos abraçados: rindo e cantando.... Chovia



metamorfose



Ontem,
Ao meio- dia,
Comi um prato de lagartas
Passei a tarde defecando borboletas.”



AÇÃO GIGANTESCA



Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo."



Bate-Papo



- rapaz, não quero nada

Porque to de papo cheio.

- ih! É por isso que senti um bafo.

-bafo de mim não. Você pode ter sentido

Perfume ou pré-fumo. porque perfume ou pré-fumo

O que confunde é o “F” é o “R”.

mas todos nós somos errados.



A louca e o manequim





A menina louca, maltrapilha e suja,

Parou em frente à vitrine da Casa Parente,

E estática olhava para um manequim feminino.

Olhou... olhou... pensou... pensou...

Dado momento perguntou:

“ta com fome, égua?”

Esta pergunta causou-me

Certa impressão, o poeta,

Que também já conversou com os manequins.

Eu dissera: “se fosse realmente mulher

Como és de gesso,

Te daria um prato de comida.”

Será que essa louca é

A personificação da poesia?







Quando eu morrer



Quando eu morrer

Irão distribuir minhas camisas,

Minhas calças, minhas meias, meus sapatos.

As cuecas jogarão fora.

Ninguém usa cueca de defunto.

Irão vascular minha gaveta.

Vão encontrar muita poesia,

Documentos e documentários.

Só sei dizer

Que foi gostoso viver.

Sentir o amor e proteção de minha mãe.

De conhecer meus irmãos, meus amigos.

De vê de perto as mulheres.

Só posso deixar escrito:

“obrigado vida”.



Momentos cruciais



Assim como a saudade

Possui resquício de realidade,

cada cueca ou calcinha usada

Possui resquícios de bosta.

Ah! Como dói

Água gelada

No dente cariado!

É necessário o dentista

E o protético

Para mastigar com sabor

O alimento que preserve à vida.

No sonhar contigo,

Ao acordar devemos dar

Graças a Deus

Por mais um dia de existência,

Antes que a depressão

Ou a doença nos aniquile

sábado, 26 de julho de 2008